A América Latina adota as finanças digitais e o futuro da internet

ESCRITO POR

Spencer Spinnell

Vice-presidente, Américas

Rachel Mayer

Vice-presidente de Produto

Pontos mais importantes

  • Com seu rápido amadurecimento, há sinais de que a infraestrutura de blockchains está pronta administrar ainda mais atividades econômicas em um futuro muito próximo, tanto na América Latina quanto em todo o mundo
  • Em conjunto, a demanda bem estabelecida do mercado latino-americano, o apoio político e o uso generalizado do dólar fazem da região uma escolha natural para uma adoção mais ampla de stablecoins.
  • A Circle oferece infraestrutura (stablecoins, carteiras e outras ferramentas para desenvolvedores) que profissionais podem acessar para criar novos serviços financeiros interoperáveis por meio de um novo sistema operacional global de dinheiro

Stablecoins potencializam a interoperabilidade financeira e a "Web3" para fintechs e desenvolvedores da América Latina

As stablecoins e os dados tokenizados em blockchains abertas fazem parte de uma nova onda de comércio global, tornando significativamente mais fácil para pessoas e empresas movimentar, armazenar e possuir valores localmente e em todo o mundo.

No ano passado, as liquidações globais de stablecoins superaram US$ 7 trilhões, enquanto Visa e Mastercard tiveram liquidações de US$ 14 trilhões.1

Com seu rápido amadurecimento, há sinais de que a infraestrutura de blockchains está pronta administrar ainda mais atividades econômicas em um futuro muito próximo, tanto na América Latina quanto em todo o mundo. Neste artigo, falaremos sobre como as blockchains podem ajudar a solucionar problemas substanciais de uma forma que o mundo financeiro convencional simplesmente não consegue. 

Acreditamos que, nos próximos anos, milhões de empresas e bilhões de pessoas adotarão serviços financeiros novos, regulamentados e baseados em blockchain, que competirão com as instituições financeiras tradicionais em termos de serviços de poupança, pagamentos, crédito, entre muitos outros. Devido aos avanços no desenvolvimento de software que facilitam a criação e o uso de blockchains, desenvolvedores poderão incorporar esses serviços de forma prática e imperceptível para os comerciantes e seus usuários.

Essa mudança já está em andamento — e em plena aceleração — com a América Latina assumindo um papel de liderança em nível global. De meados de 2021 a meados de 2022, cidadãos de países latino-americanos receberam 562 bilhões de dólares em valor de moeda digital.2 Segundo a Mastercard, 51% dos consumidores latino-americanos fizeram uma compra com moeda digital, e 33% usou uma stablecoin para suas compras do dia a dia.3

Uso da moeda digital na América Latina

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Esse crescimento expressivo é alimentado em grande parte por uma proposta de valor simples, mas poderosa: o acesso expandido. 

Em todo o mundo, 1,7 bilhão de pessoas têm pouco acesso a serviços bancários, entretanto, 66% dessas pessoas possuem um smartphone. Assim como a internet democratizou o acesso à informação, as blockchains públicas podem transformar esses dispositivos conectados à internet em endpoints compatíveis tanto com serviços financeiros convencionais quanto com os novos serviços inovadores que estão revolucionando os processos e a burocracia tradicionais.

Alcançando aqueles que têm pouco acesso a serviços bancários4

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Nos próximos anos, a convergência entre dinheiro e internet pode incentivar mudanças que se assemelham ao que ocorreu durante a ascensão da internet no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando milhões de pessoas em todo o mundo — e depois bilhões — ganharam acesso.

Projetamos que trilhões de dólares eventualmente migrarão para serviços financeiros baseados em blockchain, representando uma fatia significativa do dinheiro no mundo. Também prevemos que, além do surgimento de novos serviços de blockchain, instrumentos financeiros tradicionais migrarão para as blockchains e assim ficarão disponíveis para pessoas que nunca antes tiveram acesso.

Esta infraestrutura representa uma nova e significativa etapa na evolução da internet, que tivemos a sorte de ajudar a moldar como fundadores da Web e durante muito tempo ampliando o negócio de pagamentos globais do Google em 30 países, e administrando uma mesa de câmbio de mercados emergentes no JP Morgan.

Existe uma semelhança marcante entre a "internet do dinheiro" de hoje e a internet inicial, quando ela tomou forma durante a década de 1990. A primeira internet surgiu na década de 1960, mas não ganhou impulso significativo porque os navegadores não eram acessíveis para as pessoas, e tampouco fáceis de usar. A novidade tecnológica fez surgir os pilares da economia da internet como a conhecemos hoje — buscas, mídias sociais, comércio eletrônico e muito mais — que interromperam e revolucionaram completamente muitos mercados trilionários. 

Essa mesma evolução está acontecendo novamente, e em tempo real. As moedas digitais e as blockchains estão rapidamente ultrapassando a fase da "internet discada", e a experiência do usuário está melhorando enquanto as próprias blockchains estão ficando cada vez mais rápidas, práticas e resilientes.

Semelhante à internet original, a natureza de código aberto dessa nova infraestrutura incentivou sua adoção inicial e é considerada fundamental para possibilitar seu uso generalizado. Muitos dos recursos importantes das blockchains estão disponíveis gratuitamente para os desenvolvedores usarem, facilitando a criação de aplicativos interoperáveis que podem um dia superar os gigantes da web e dos serviços financeiros atuais por meio de um novo sistema operacional global de dinheiro.

Vamos falar sobre alguns dos fatores que estão impulsionando a rápida adoção da moeda digital na América Latina, e sobre o futuro incrível que estamos construindo na região e além.

Por que a América Latina está pronta para impulsionar essa mudança globalmente

Enquanto a América do Norte promoveu a adoção global da internet, a América Latina está assumindo um papel de liderança no que diz respeito à moeda digital e à tecnologia financeira de forma mais ampla. Isso se deve, em parte, à questões de necessidade, já que muitas pessoas da região não têm acesso a serviços financeiros tradicionais e analógicos. A demografia também desempenha um papel fundamental. Com uma população de 658 milhões5 — aproximadamente o dobro dos EUA — a América Latina possui praticamente o mesmo número de pessoas que o Sudeste Asiático, outro centro de inovação financeira digital. Cerca de 25% dessa população tem 14 anos ou menos, o que significa outra vantagem importante para a América Latina em relação a outras regiões globais com populações envelhecidas.6

A forte presença de desenvolvedores na América Latina também é um fator importante. Há cerca de um milhão de desenvolvedores na região ativos no desenvolvimento offshore,7 em que grande parte deste trabalho é terceirizado por empresas americanas.8 Essa base de desenvolvedores está causando um impacto local cada vez maior, com fintechs e bancos digitais regionais promovendo melhorias significativas de custo e acessibilidade no mercado financeiro da América Latina.9

A maior adoção de fintechs na América Latina está associada à menor desigualdade de renda, conforme evidenciado pelo fato de que 75% dos 30 milhões de clientes de bancos digitais da região eram anteriormente consumidores com pouco ou nenhum acesso a serviços bancários e empresas de pequeno e médio portes (PMEs).10 As fintechs são também amplamente apoiadas pelos legisladores, pois disponibilizam para as autoridades financeiras novas ferramentas para gerenciar riscos e conformidade.11

Devido a esse amplo apoio regulatório e à demanda das empresas e dos consumidores da região, o setor de fintechs da América Latina dobrou de tamanho recentemente e agora conta com aproximadamente 2.500 plataformas.12

Fintechs da América Latina: uma potência global

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A demanda bem estabelecida do mercado latino-americano, o apoio político e o uso generalizado do dólar fazem da região um local ideal para adotar stablecoins de forma mais ampla. Conforme observado anteriormente, as stablecoins fazem cada vez mais parte do poder de compra dos consumidores latino-americanos. Muitos países estão investindo em a Central bank digital currencies (CBDCs), sendo que o Brasil já selecionou 14 instituições para participar do piloto do real digital.13

E, cá estamos aqui hoje... e refletindo sobre o amanhã. Fintechs, bancos tradicionais, stablecoins e CBDCs já existem (ou existirão em breve), no entanto, estão desconectados entre si. Para atingir um estado futuro de troca de valor uniforme, é necessário estabelecer uma infraestrutura em segundo plano para reunir todas essas camadas existentes, gerando uma interoperabilidade financeira tanto localmente na América Latina quanto globalmente.

A Circle tem como objetivo desenvolver essa interoperabilidade em serviços financeiros por meio de stablecoins compatíveis, protocolos de mensagens seguras e outras soluções de código aberto baseadas em blockchain que eliminam conflitos na transferência de valores.

Veja como estamos fazendo isso acontecer.

Nossa visão para a infraestrutura financeira nativa da internet

Tudo começa com as nossas stablecoins. A Circle lançou o USDC — uma moeda digital em dólar — em 2018, e desde então cresceu e se tornou uma das moedas digitais mais líquidas e amplamente mantidas no mundo. Todos os dias, cerca de US$ 4 bilhões em USDC são negociados.14 Cerca de dois milhões de pessoas em mais de 190 países possuem USDC em carteiras digitais.15

O USDC é uma stablecoin totalmente reservada, lastreada 100% em dinheiro altamente líquido e ativos equivalentes a dinheiro, e sempre resgatável na proporção de 1:1 por dólares dos EUA. Uma parte da reserva do USDC é investida no Circle Reserve Fund (USDXX), um fundo do mercado monetário regulamentado pela SEC e administrado pela BlackRock. Relatórios diários independentes de terceiros sobre o portfólio estão disponíveis ao público.

No momento, a maior parte das atividades de stablecoins é operada em dólares e não em moedas latino-americanas locais, entretanto, isso pode ajudar as pessoas da região a usarem a moeda dominante para passar a fazer parte do comércio global.16 Historicamente, mais de 90% do faturamento comercial nas Américas é realizado em dólares.17 No resto do mundo fora da Europa, é de cerca de 70% a 80%.18

Participação do dólar no faturamento comercial19

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Acreditamos que, ao longo do tempo, surgirão mais stablecoins não lastreadas ao dólar. Como um primeiro passo em direção a esse futuro, em 2021 começamos a oferecer o EURC. Essa stablecoin lastreada ao euro é emitida sob o mesmo modelo de reserva total do USDC.

Vamos analisar alguns aspectos do design do USDC que o ajuda a funcionar como uma camada que facilita a interoperabilidade financeira. 

  • Uma API em dólares para atividades financeiras na internet
    O USDC é essencialmente uma API em dólares para serviços financeiros nativos da internet. É um bloco de código aberto e altamente regulado, que oferece fácil integração com outros projetos de fintechs, bancos e moedas digitais, para permitir transações praticamente instantâneas e gratuitas lastreadas à moeda mais usada do mundo.
  • Criado para a interoperabilidade de blockchains
    O USDC foi projetado para fluir em uma variedade de blockchains. Atualmente, é nativo em nove blockchains, com lançamentos adicionais planejados para outras blockchains. Com o tempo, nosso plano é disponibilizar o USDC onde quer que os desenvolvedores estejam ativos e onde medidas de segurança corretas estejam em vigor, para que ele possa ser usado amplamente em todo o ecossistema de blockchains.

    Selecione as velocidades de liquidação das blockchains do USDC
    select-USDC-settlement-speeds
    Esses dados visam ser uma referência de quando a conta da Circle reconhece a liquidação, mas não devem implicar um limite absoluto das capacidades de uma determinada rede blockchain.

    Ao mesmo tempo, estamos reduzindo a complexidade da blockchain. Nosso recém-lançado Cross-Chain Transfer Protocol (CCTP) ajuda a facilitar o envio de USDC de uma blockchain para outra. Em breve, esperamos habilitar o suporte ao CCTP para todas as blockchains onde o USDC é nativo, facilitando o envio de dólares através de blockchains compatíveis.

    See how CCTP lets you swap USDC across supported blockchains in 3 easy steps   

  • Carteiras programáveis e serviços de desenvolvedor
    Nossas carteiras programáveis (Programmable Wallets) permitem que os desenvolvedores incorporem recursos de armazenamento, transferência e gastos para o USDC e outros ativos digitais a aplicativos existentes. Isso significa que as empresas online que já atingiram um alto nível de escala não precisarão reconstruir interfaces comuns do zero. Em vez disso, elas podem simplesmente incorporar ativos digitais às experiências existentes dos clientes.20

É importante lembrar que todos os aspectos da nossa infraestrutura — stablecoins, carteiras e outras ferramentas de desenvolvedor — estão disponíveis para uso dos desenvolvedores. Queremos que os criadores acessem esses blocos para criar novos serviços que sejam interoperáveis por meio de um novo sistema operacional global de dinheiro.

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Como a América Latina está reunindo tudo isso

Aqui estão alguns exemplos de como as fintechs e os desenvolvedores da América Latina estão colocando o USDC para trabalhar.

* A Circle Ventures, afiliada da Circle Internet Financial, LLC, investiu nesta empresa.

Vamos construir juntos

Essa infraestrutura representa um dos maiores avanços na história da tecnologia financeira. Gostaríamos muito de ajudar você a entender melhor sobre as oportunidades disponíveis e a aproveitar a interoperabilidade dos serviços financeiros. Entre em contato conosco a qualquer momento.

Written by

Spencer Spinnell

Vice-presidente, Américas

Rachel Mayer

Vice-presidente de Produto

  1. “Liquidações de stablecoins poderão superar as principais redes de cartões em 2023: dados.” Cointelegraph. Prashant Jha. 22 de dezembro de 2022. Retirado de: https://cointelegraph.com/news/stablecoin-settlements-can-surpass-all-major-card-networks-in-2023-data
  2. "Os principais fatores de adoção de crypto na América Latina: armazenamento de valor, envio de remessas e a busca de alfa." ChainAlysis. 30 de outubro de 2022. Retirado de: https://blog.chainalysis.com/reports/latin-america-cryptocurrency-geography-report-2022-preview/
  3. “Latin America’s crypto conquest is driven by consumers’ needs.” Mastercard. 21 de junho de 2022. Retirado de: https://www.prnewswire.com/news-releases/latin-america-s-crypto-conquest-is-driven-by-consumers-needs-819718066.html
  4. "1,7 bilhão de pessoas não têm conta bancária, mas o serviço bancário móvel poderá mudar suas vidas." Marsh McLennan. Khalid Umar. 9 de agosto de 2021. Retirado de: ​​https://www.brinknews.com/bridging-the-digital-divide-to-widen-financial-services-in-central-asia/
  5. “Latin America – Statistics & Facts.” Statista. Aaron O’Neill. 22 de novembro de 2022. Retirado de: https://www.statista.com/topics/3287/latin-america/#topicOverview
  6. Ibid.
  7. "O número de desenvolvedores de software envolvidos no desenvolvimento offshore na América Latina em 2022, por país." Statista. 26 de junho de 2023. Retirado de: https://www.statista.com/statistics/1290785/software-developers-involved-in-offshore-development-latin-america/#:~:text=Software%20developers%20involved%20in%20offshore%20development%20Latin%20America%202021%2C%20by%20country&text=In%202021%2C%20there%20were%20approximately,Argentina%20totaled%20over%20100%20thousand.
  8. “Por que a popularidade de desenvolvedores latino-americanos aumentou 400% em 5 anos?” CodersLink. Carlos A. Vasquez. 24 de fevereiro de 2021. Retirado de: https://coderslink.com/employers/blog/why-latin-american-developers-are-400-more-popular-than-5-years-ago/
  9. “A ascensão e o impacto das fintechs na América Latina.” Fundo Monetário Internacional. 29 de março de 2023. Retirado de: https://www.imf.org/en/Publications/fintech-notes/Issues/2023/03/28/The-Rise-and-Impact-of-Fintech-in-Latin-America-531055
  10. Ibid.
  11. Ibid.
  12. “Qual o tamanho do mercado de fintechs na América Latina? A verdade surpreendente." Newtopia VC. 6 de janeiro de 2023. Retirado de: https://newtopia.vc/vc-blog/latam-fintech/how-big-is-fintech-market-in-latin-america/
  13. O Banco Central do Brasil seleciona 14 participantes para o piloto de CBDC.” Coindesk. Andres Engler. 25 de maio de 2023. Retirado de: https://www.coindesk.com/policy/2023/05/25/brazils-central-bank-selects-14-participants-for-cbdc-pilot/
  14. Dados da Internal Circle
  15. Ibid.
  16. “The International Role of the U.S. Dollar.” U.S. Federal Reserve. 6 de outubro de 2021. Retirado de: https://www.federalreserve.gov/econres/notes/feds-notes/the-international-role-of-the-u-s-dollar-20211006.html
  17. Ibid.
  18. Ibid.
  19. Ibid.
  20. A interface de programação de aplicativos (“API”) das Programmable Wallets é oferecida pela Circle Technology Services, LLC (“CTS”). A CTS não é uma empresa de serviços financeiros regulada, e a API não inclui consultoria financeira, de investimentos, tributária, jurídica, regulatória, contábil, comercial nem de outra natureza. Para obter mais detalhes,clique aqui para ver os Termos de serviço para desenvolvedores da Circle.